sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Cão.
(André Vilela)
Pobre infeliz que sou
Meu dono me largou
Nasci indefeso
O acaso meu deu o desprezo
Tenho fome e sou sarnento
Me repouso no cimento
Essas feridas me matam de dor
E ainda me olham com rancor
Rancor de eu estar no caminho
Abano o rabo por carinho
E me chamam de pulguento
São todos pobres de espírito, sem sentimentos!
A morte me chama em cada esquina
A rua é minha sina
Sou apenas um cão
Que no lixo procura um pedaço de pão
sábado, 5 de novembro de 2011
Enfermiço romanesco
(André Vilela)
Você me consome com sua feminilidade
De amor eu vivo sempre enfermiço
Deduzo que seja esse teu feitiço
Que me faz te amar com vontade
Teus olhinhos tímidos quixotescos
Lábios que me perco ainda sedento
E que me falta o alento
E me faz cada dia mais romanesco
Só temo ser um personagem efêmero
Que ocupa poucas linhas da sua história
Sem cheias paginas notórias
Temo não ser do seu gênero
É merecedora de mesuras
Com ímpeto de rainha
Teme eternizar-se sozinha
A solidão cobra muitas usuras
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Menina Moça
(André Vilela)
[Poesia escrita no ponto de vista feminino]
Meus olhos vêem um mundo singelo
Descubro minhas correntes
Desato meus elos
E me mantenho concreta e inocente
O amor ainda é um caminho que desconheço
E a paixão velha amiga
Madura quando me amanheço
E o novo me instiga
E eu que me vi no espelho criança
Hoje metamorfose do tempo
Lembro das danças de roda, e meu cabelo com trança
Agora meu futuro invento
De boba a menina moça
Forte com minha fraqueza
Alma frágil de louça
Guerreira mas nobreza
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Você é
(André Vilela)
Você é osso duro de roer
Meu coração só vai endoidecer
Por que você não quer me namorar
Você é dura na queda
Meu coração se embebeda
Por que cansou de te esperar
Você é santa do pau oco
Meu coração fica louco
Por que você só sabe me tentar
Você não Maria, mas é cheia de graça
Meu coração te chama de palhaça
Por que você sabe me esnobar
domingo, 3 de abril de 2011
Renuncio.
(André Vilela)
Me cansei dessa inércia
Me cansei dessa suma controvérsia
Que fada no meu intimo
Tormento desse pensamento mítico
Pequenez é o ego
Rompeu-me a visão, fiquei cego!
Agora me pego, sem ti!
Ao amor me redimi
Renuncio esse silencio entediante
Que de ti me deixa mais distante
Levanto a espada como valente
Ao mundo proclamo
És tudo que eu quero como te amo!
É com toda clareza
Que tudo digo
Esse amor hoje vivo
Feito vento
Páreo longe com você no pensamento
Estou sempre atento
No seu olhar
Que me deixa em nuvens ao me intimidar
Renda-te aquilo te roga
Me afoga
No mar do teu amar
Donzela da minha história
Sentir tua beleza sem término
Me é coisa obrigatória
Pois do começo ao fim do meu dia
Me anestesia de alegria
Amo-te sem dimensão
É tanto amor
Que não cabe no meu coração
Viva capacidade de ternura
Desfez com bravura
Aquele medo mesquinho
O qual só deixava-me sozinho
Por amor renunciei meu eu
Para buscar o teu
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Dentro de mim.
(André Vilela)
Descontente esgotamento
Rompeu limites
Alem do desalento
Me sobra a poesia silenciosa
Me sobra a incógnita
Das noites misteriosas
Dentro de mim é um alarido
Incisivo e abafado
Porem soante pelo amor perdido
Dentro de mim
O relógio do amor está sem ponteiros
Dentro de mim
O mar bravo do amar
Submergiu os veleiros
Dentro de mim
Esfarelou-se moeu-se
A flecha do cupido arqueiro
Dentro de mim
A rosa virou estrume
Os lírios do campo
Perderam o perfume
Dentro de mim
Nossas igualdades
Já não se conhecidem
Dentro de mim
A tua incerteza e a minha esperança breve
Se agridem
Dentro de mim
O castelo virou escombro
Vaga no alheio
O amor como assombro
Dentro de mim
Uma sinfonia toca entristecida
Ao luto da paixão que partiu desvalida
Dentro de mim
Resta o lamento da lírica já descrente
O vazio vivente
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Tardes Cinzas.
(André Vilela)
Não gosto dessas tardes
Chuvosas e frientas
De cor opaca cinzenta
Que você de mim
Se ausenta
Faz falta teus cafunés
Teu abraço
Que me esquenta
O filme e a pipoca
Tuas doces beijocas
Um dia sem ti
É como se eu
Não existisse
Como se eu
Não fosse eu
Sem o corpo teu
É como se houvesse
Um abismo entre mim
E o viver
E assim um dia meu
Sem ti ver
É meu ser entregue
A saudade breve
Mas tento me aquietar
Pois sei
Que amanha de manha
Nos meus braços
Você vai estar
sábado, 1 de janeiro de 2011
Tão certa.
Quero sentir o calor dos teus braços
O gosto do teu beijo
Sentir o que eu não vejo
Sim o que a alma apaixonada vê
Pois sabes tanto quanto eu
Que a amada certa
É você
Não quero enganar
Brincar de amar
Quero-te como uma tatuagem
Quem nem o tempo
Pode apagar
Quero-te tão certa
Quanto a chuva que vem
Que vem molhar a terra
Quero-te tão certa
Como todo e qualquer homem
Que um dia na vida erra
Quero-te tão certa
Quanto o Sol que raia
Ao dia seguinte
Quanto a lua que surge
Antes das sete e vinte
Quero-te tão certa
Quanto o ar
Desde dia que te conheci
Só conjugo o verbo amar
Quero-te tão certa
Quanto a velhice
Quanto a qualquer crendice
Quero-te tão certa
Quanto o nascer e morrer
Quero-te tão certa
Quanto as folhas que caem no outono
Tão certa quanto o sono
Eu digo tão certo
Que você é a certa
Meu coração
Te aguarda de porta aberta